terça-feira, março 06, 2007

Vanishing...

Gosto deste lugar. Gosto de ficar na parte de trás da sala e observar discretamente o ecrã dos portáteis das outras pessoas enquanto finjo estar a fazer algo no meu. Gosto de ver quem observa fotos de meninas nuas de expressões cativantes. Quem se diverte com joguinhos de tiros e de naves e de bonecos e de tudo o que os faça esquecer onde estão. Quem trabalha. Sim, também há quem trabalhe. Estou a ouvir The Postal Service e a pensar que sou muito melhor e mais interessante do que todas estas silhuetas curvadas e tristes que vejo à minha frente. Mas não sou. No essencial estamos todos no mesmo barco. A desperdiçar as nossas vidinhas (que de tão insignificantes tinham mais era que ser aproveitadas) à frente destes teclados esbatidos e ecrãs luminosos que em vez de janelas, são espelhos de encolher como aqueles que se vêm nas feiras populares.
Faz-me falta o toque. Faz-me falta o olhar nu. Faz-me falta o silêncio incomodativo, o coração acelerado, o suor frio, a insegurança. Faz-me falta a intimidade. Deixei de ser íntimo. Deixei de ser o Sufjan Stevens numa sala com vinte pessoas para passar a ser os Bon Jovi num estádio com cinquenta mil. Sou cada vez mais frio, geral, esbatido.
Nunca te perdoarei por me teres transformado neste seixo redondo e monocromático que fica sempre neste lugar. Atrás. Bem atrás.