Devaneio invisível número 1 - 16/12/2005
Gosto de vozes fortes. Não gosto daquelas vozes ecoadas por aquele tubo plastificado que liga o coração às cordas vocais do qual só sai estupidez intrínseca à própria necessidade de expelir qualquer coisa cá para fora. Gosto de vozes que vêm de um sítio bem mais profundo do que esse. Gosto de vozes que obrigam o diafragma a comprimir o pâncreas, o baço, o fígado e demais comparsas contra os rins. Não gosto de vozes que vêm do coração porque o coração é um órgão estúpido, que não se contenta com a sua condição de órgão e quer ser algo mais. Gosto de vozes que vêm da tripa e do músculo porque é daí que vêm os verdadeiros sentimentos, puros e por esculpir.
Gosto de palavras inacabadas pela incapacidade de exprimirem tudo o que querem exprimir, e directas por dizerem tudo o querem dizer sem o saber dizer de outra maneira.
Gosto de palavras ditas por vozes disformes, desafinadas, desmesuradamente altas, mas sempre verdadeiras, fortes, vindas donde interessa que elas venham.
Fim do devaneio…Vou jogar à bola...